O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, visitou o Panamá, o pequeno país latino-americano, no domingo para impor as exigências de dominação do Canal do Panamá pelos EUA, apoiado pela ameaça de Trump de atacar ilegalmente o Panamá e reconquistar a hidrovia.
Cedendo às ameaças da maior potência militar do mundo, a autoridade de trânsito do Canal do Panamá disse no final do domingo que vai “otimizar a prioridade de trânsito” dos navios da Marinha dos EUA, enquanto a Bloomberg informou que o presidente panamenho José Raul Mulino “garantiu a Rubio que os navios da Marinha dos EUA teriam passagem livre”.
Mulino também anunciou no domingo que o Panamá não renovaria sua participação na iniciativa de infraestrutura Cinturão e Rota da China, tornando-se o primeiro país da América Latina a fazer isso. Ele também levantou a possibilidade de cancelar seus acordos vigentes com a China sobre a Iniciativa Cinturão e Rota, que duram até 2026.
Rubio se regozijou com o anúncio, escrevendo em um post no X na segunda-feira: “O anúncio feito ontem pelo presidente José Raúl Mulino de que o Panamá permitirá que sua participação na Iniciativa Cinturão e Rota [do Partido Comunista Chinês] expire é um grande passo para as relações entre os EUA e o Panamá”.
O Canal do Panamá é a segunda rota de navegação mais movimentada do mundo. Originalmente construído pelos Estados Unidos no início do século XX, o controle foi transferido para o Panamá em 1999, de acordo com os termos de um tratado de 1977.
Durante sua posse presidencial em 20 de janeiro, Trump ameaçou: “Nós demos [o Canal] ao Panamá e vamos pegá-lo de volta”.
Poucos dias depois, Trump confirmou que estava ameaçando usar “coerção militar” para anexar o Panamá, bem como a Groenlândia, o território ártico controlado pela Dinamarca. Trump disse: “Precisamos deles para a segurança econômica”.
Trump repetiu suas ameaças de anexar ilegalmente o Canal do Panamá no domingo, antes de Rubio deixar o país. “A China está administrando o Canal do Panamá. Ele não foi dado à China, foi dado ao Panamá, tolamente, mas eles violaram o acordo e nós vamos tomá-lo de volta, ou algo muito poderoso vai acontecer”, disse Trump a repórteres na Base Conjunta de Andrews, nos arredores de Washington.
Suas ameaças contra o Panamá fazem parte de seus esforços para consolidar o controle sobre as Américas e suas principais vias navegáveis como parte de uma preparação militar para a guerra com a China.
Ao comentar sobre a viagem de Rubio, o Wall Street Journal observou: “A maioria dos antecessores de Rubio nas últimas décadas visitou Londres ou outros grandes aliados dos EUA em suas primeiras viagens ao exterior. A escolha do Panamá como sua primeira parada refletiu a extensão em que Trump inverteu as prioridades diplomáticas americanas e redirecionou a atenção dos EUA para o Hemisfério Ocidental”.
Em seu relatório sobre a reunião entre Rubio e Mulino, o Departamento de Estado escreveu: “O presidente Trump determinou preliminarmente que a atual posição de influência e controle do Partido Comunista Chinês sobre a área do Canal do Panamá é uma ameaça ao canal e representa uma violação do Tratado sobre a Neutralidade Permanente e Operação do Canal do Panamá. O secretário Rubio deixou claro que essa situação é inaceitável e que, na ausência de mudanças imediatas, isso exigiria que os Estados Unidos tomassem as medidas necessárias para proteger seus direitos de acordo com o Tratado”.
A alegação de que o Panamá está violando o tratado é uma fraude. O Panamá permite que navios de todas as bandeiras passem pelo canal, conforme especificado no tratado. O que Trump está buscando é um tratamento preferencial para os navios de guerra, comerciais e de carga dos EUA e a tomada do canal para realizar um bloqueio à China, caso Trump lance uma guerra de agressão ilegal contra o país asiático.
Trump usou como pretexto para acusações de supostas violações do tratado o fato de que os terminais de carga nas extremidades do canal são operados pela Hutchison Whampoa, uma operadora portuária com sede em Hong Kong. No início deste mês, o governo do Panamá anunciou que havia iniciado uma auditoria das operações da Hutchison, de acordo com as exigências do governo Trump.
Antes de sua ida para o Panamá, Rubio afirmou que a China tem um plano de contingência para fechar o Canal do Panamá em caso de guerra com os Estados Unidos. “E se o governo da China, em um conflito, disser para eles fecharem o Canal do Panamá, eles terão que fazê-lo”, disse Rubio. “E, de fato, não tenho dúvida de que eles têm um plano de contingência para fazer isso. Isso é uma ameaça direta”.
No dia de Natal, Trump postou na rede social Truth Social que os “maravilhosos soldados da China” estavam “amorosamente, mas ilegalmente, operando o Canal do Panamá”.
Essas alegações são uma fraude. A Hutchison não tem controle sobre o trânsito de navios pelo porto e não poderia impedir que navios americanos transitassem por ele em caso de guerra com a China.
O uso de força militar para garantir o domínio do canal pelos EUA não é inédito. Em 1989, os Estados Unidos invadiram o Panamá para depor ilegalmente o governo de Manuel Noriega, matando 500 panamenhos.
Em resposta à implacável campanha de pressão dos EUA, o Financial Times comentou: “O governo e a elite empresarial do Panamá estão começando a entrar em pânico, disseram diplomatas, ao perceberem que, embora a retórica de Trump possa ser extravagante, o presidente dos EUA e seus aliados estão falando sério sobre pressionar seu pequeno país a fazer concessões e reduzir a presença da China – mesmo que isso signifique rasgar acordos legalmente vigentes”.
Em uma entrevista ao Politico publicada no fim de semana, o ex-presidente do Panamá, Ernesto Pérez Balladares, levantou a ameaça muito real de uma invasão do Panamá pelos EUA, dizendo: “Acho que haverá muitas, muitas baixas do nosso lado”, disse ele, “e condenação internacional dos EUA”.