Publicado originalmente em inglês em 29 de março de 2025
O apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automotiva (UAW, na sigla em inglês) às tarifas de 25% anunciadas por Trump sobre todos os automóveis fabricados fora dos Estados Unidos equivale a uma declaração de apoio a um governo dominado por fascistas. Ele ressalta a hostilidade implacável da burocracia sindical contra a classe trabalhadora em todos os países – e a necessidade urgente de uma rebelião de base contra ela por meio da construção da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base como parte de uma luta mais ampla contra a ditadura.
O presidente do UAW, Shawn Fain, emitiu uma declaração bajuladora “aplaudindo” o governo Trump, que, segundo ele, “fez história” ao impor tarifas que supostamente criarão “milhares de novos empregos”. A alegação de Fain de que as tarifas beneficiarão a classe trabalhadora não é apenas economicamente incorreta - é uma fantasia reacionária.
Em um setor globalmente integrado, não existe um carro “americano” ou “mexicano”. Nas últimas décadas, os automóveis têm sido montados por meio de um vasto processo de produção que se estende por todo o mundo. As tarifas não protegerão os trabalhadores, mas provocarão retaliações, interromperão as cadeias de suprimentos e provocarão o colapso econômico e demissões em massa nos EUA e no exterior. Se não for detido pela classe trabalhadora, esse caminho levará diretamente à guerra comercial, como na década de 1930, e, por fim, à guerra mundial.
O apoio também soa hipócrita. A burocracia do UAW não poderia se importar menos com o destino dos trabalhadores do setor automotivo nos EUA ou em qualquer outro lugar. Embora o UAW agora afirme que Trump está acabando com a competição global que levou a fechamento de fábricas nos EUA, ele passou os últimos 45 anos colaborando com as corporações para destruir milhões de empregos no setor automotivo em nome da “competitividade”.
O objetivo de Trump não é proteger os empregos “americanos”, mas se preparar para uma guerra imperialista para dominar os mercados globais e as cadeias de suprimentos. Sua política tarifária anda de mãos dadas com ameaças abertas de anexar a Groenlândia, o Panamá e até mesmo o Canadá - planos extraídos diretamente do manual de Hitler, cujas anexações da Áustria e dos Sudetos da Tchecoslováquia abriram caminho para a Segunda Guerra Mundial.
Embora o UAW não chegue a dizer isso abertamente, a conclusão inevitável da declaração de quinta-feira é que a burocracia sindical apoiaria a anexação do Canadá e de outros países.
Em uma tentativa débil de encobrir sua posição reacionária, os burocratas do UAW afirmam que as tarifas de Trump beneficiarão de alguma forma os trabalhadores mexicanos do setor automotivo, mesmo que milhares percam seus empregos. Na realidade, a política estabelece as bases para a conversão do México, sob o domínio do imperialismo americano por quase 200 anos, em uma colônia de fato dos EUA.
O apoio do UAW às tarifas também serve para legitimar o bode expiatório racista de Trump contra os imigrantes latino-americanos, juntamente com a deportação de estudantes internacionais. Entre os alvos está Mahmoud Khalil, membro do UAW e estudante de pós-graduação em Columbia, que foi sequestrado pelo Departamento de Imigração e Controle (ICE, na sigla em inglês) por suas opiniões políticas. A burocracia sindical não moveu um dedo para defendê-lo – nem a qualquer outro que esteja enfrentando repressão por se opor à guerra e ao genocídio.
A adesão do UAW a Trump é uma continuidade e um aprofundamento do apoio da burocracia à economia de guerra sob Biden. O próprio Biden chamou infamemente os sindicatos de sua “OTAN doméstica”, destacando seu papel fundamental na preparação da nação para a guerra imperialista. Todas as frações da classe dominante concordam com os objetivos básicos das políticas de Trump, sendo que os democratas apenas se opõem ao seu afastamento estratégico da Ucrânia.
O UAW finge que pode apoiar as tarifas de Trump enquanto se opõe a outros aspectos de seu programa. Na quinta-feira, o sindicato emitiu uma declaração afirmando ser contra os planos de Trump de eliminar os direitos de negociação coletiva de muitos trabalhadores do setor público federal. Isso é tão absurdo quanto afirmar que alguém poderia apoiar os ataques demagógicos dos nazistas aos “banqueiros globais” e aos “industriais desleais” e, ao mesmo tempo, se opor à perseguição aos judeus.
O elogio do UAW a Trump faz parte de um fenômeno mais amplo. Enquanto Trump trava uma guerra total contra a classe trabalhadora e os programas sociais, os sindicatos não estão fazendo nada. Em vez de resistir ao ataque, eles o estão facilitando ativamente. Os Teamsters [um sindicato que abrange diversas categorias, como transporte e alimentação] são, quando muito, apoiadores mais declarados de Trump, enquanto toda a AFL-CIO declara sua disposição de “trabalhar com” o novo regime. Mesmo quando Trump desmantela ilegalmente departamentos inteiros e planeja demitir centenas de milhares de pessoas, os sindicatos federais estão restringindo a atuação dos trabalhadores ao envio de cartas pressionando os congressistas.
A classe trabalhadora só pode se organizar por meio de uma rebelião contra o aparato sindical, cuja renda e social privilegiados se baseiam na exploração da classe trabalhadora e na estreita integração da burocracia com as corporações e o Estado.
O apoio do UAW ao fascismo atesta a profunda transformação dos sindicatos desde suas origens nas greves militantes e lideradas pelos socialistas na década de 1930. Em 1985, os trabalhadores da indústria automotiva dos EUA e do Canadá estavam ambos no UAW, refletindo o que, naquela época, era uma pretensão puramente formal de apoiar a unidade internacional da classe trabalhadora. O alto escalão do UAW ainda é chamado de “Internacional”, um resquício terminológico do sentimento de esquerda das bases nos primeiros anos do UAW.
Essa transformação decorre da história e da perspectiva social da burocracia sindical. Mergulhados no anticomunismo, no nacionalismo e no militarismo, os burocratas que dirigem o UAW e todos os outros sindicatos estavam promovendo o “America First” [EUA em Primeiro Lugar] muito antes de a frase ter sido dita por Trump. Na década de 1980, o UAW liderou campanhas racistas de linchamento contra as importações de automóveis japoneses – culminando no assassinato brutal do sino-americano Vincent Chin.
Esse é um processo global. O IG Metall na Alemanha, o Trades Union Congress no Reino Unido, o Unifor no Canadá e outras centrais sindicais estão se reunindo em torno de suas respectivas bandeiras nacionais em preparação para a guerra. O próprio Unifor surgiu de uma cisão nacionalista com o UAW em 1985 com base na alegação de que uma taxa de câmbio favorável lhe permitiria defender os empregos “canadenses” em detrimento dos americanos. Isso agora provou ser uma fraude.
Um papel fundamental no bloqueio do desenvolvimento de rebeliões de base é desempenhado por organizações como o Labor Notes e os Socialistas Democráticos da América (DSA). Esses grupos de pseudoesquerda vestiram Fain como um “reformador” democrático durante sua campanha de 2022 para presidente do UAW. Além de seu suposto reformador ter se revelado um colaborador fascista, eles ajudaram a elaborar essa política! Os ex-editores do Labor Notes, Jonah Furman e Chris Brooks, agora ocupam posições de destaque no sindicato, cada um recebendo salários de seis dígitos sob a liderança de Fain. Por sua vez, Fain atribuiu ao Labor Notes o mérito de ter sido fundamental na formação de sua agenda.
Esses grupos, que funcionam como parte do Partido Democrata, não são de fato de “esquerda”. Eles representam camadas privilegiadas da classe média alta que temem e desprezam a classe trabalhadora. Eles se opuseram à campanha de Will Lehman, um operário socialista da indústria automotiva que concorreu à presidência do UAW com um programa para abolir a burocracia e construir comitês de base, porque isso ameaçava interromper uma nova armadilha que estava sendo preparada para a classe trabalhadora, bem como suas próprias perspectivas de emprego.
No século XXI, a classe trabalhadora só pode defender seus interesses por meio de uma luta coordenada internacionalmente. Embora a globalização tenha sido impulsionada em parte pela tentativa da classe dominante de destruir os padrões de vida dos trabalhadores, ela também produziu o próprio coveiro do capitalismo: a expansão e a integração da classe trabalhadora em escala global. Esse desenvolvimento objetivo estabelece a base para um acerto de contas histórico – um acerto de contas internacional da classe trabalhadora com o capitalismo.
Isso exige a construção da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base, que está abrindo novos caminhos de luta independentes das burocracias sindicais em todos os países. Não se trata de reformar o aparato, mas de aboli-lo e transferir o poder de volta para o chão de fábrica.
Um poderoso movimento industrial de base deve ser desenvolvido, unindo os trabalhadores em todas as fábricas, locais de trabalho, setores e países. A oposição em massa, incluindo ações de greve, deve ser preparada para combater o governo de oligarcas de Trump e defender os direitos sociais e democráticos da classe trabalhadora.
O desenvolvimento de um movimento de massa na classe trabalhadora deve estar ligado à construção de uma direção socialista e revolucionária. A estratégia que orienta a classe trabalhadora não deve ser a união com os “próprios” oligarcas, mas a expropriação do setor automotivo, do sistema financeiro e de todas as grandes corporações, transformando-os em serviços públicos controlados democraticamente pela classe trabalhadora. Esse é o programa do socialismo.