A denúncia de terça-feira da semana passada contra o ex-presidente fascista brasileiro Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de 8 de Janeiro de 2023 tem feito seus aliados políticos redobrarem suas tentativas de angariar apoio do governo de Donald Trump nos EUA. Além de tentarem evitar uma quase certa condenação de Bolsonaro, eles também estão buscando reverter sua inelegibilidade e lançá-lo candidato na eleição presidencial de 2026.
Forças fascistas de todo o mundo responderam à eleição de Trump em novembro passado com enorme entusiasmo. Desde então, ele e inúmeras figuras de seu governo, principalmente o vice-presidente JD Vance e o chefe do Departamento de Eficiência Governamental, o bilionário Elon Musk, têm promovido essas forças para estabelecer tantos governos quanto possíveis de, por e para a oligarquia em todo o mundo.
Bolsonaro, que foi eleito presidente em 2018 durante o segundo ano do primeiro governo Trump, conta com seus laços políticos bem estabelecidos com o círculo dominante fascista nos EUA para obter condições políticas mais favoráveis. Após a eleição de Trump, ele escreveu no X: “Contra tudo e contra todos, Donald Trump voltará à presidência dos EUA... Parabéns, meu amigo, por esta vitória épica.” Ainda segundo ele, “Que a vitória de Trump inspire o Brasil a seguir o mesmo caminho.”
O filho de Bolsonaro, Eduardo, tem feito tudo o que pode para colocar esse plano em prática. Deputado federal no Brasil com profundos contatos com a extrema direita americana, europeia e latino-americana, apenas neste ano ele viajou três vezes aos EUA.
Eduardo esteve na posse de Trump representando seu pai depois de o passaporte de Bolsonaro ter sido confiscado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. No começo de fevereiro, ele reuniu-se com parlamentares republicanos e participou de talk shows da extrema direita americana. Na semana passada, Eduardo subiu ao palco da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) nos EUA.
Uma das figuras da extrema direita americana mais próximas de Eduardo é Steve Bannon, que confiou a ele a liderança de seu “O Movimento” fascista na América Latina. Em um evento antes da posse de Trump, Bannon saudou Eduardo, dizendo que “Este é um dos indivíduos mais importantes em nosso movimento de soberania em todo o mundo. E acho que um dia, em um futuro não muito distante, será o presidente do Brasil.”
Em resposta, Eduardo disse que “Se os Estados Unidos fizeram isso com o presidente Trump, podemos fazer isso com o presidente Bolsonaro na eleição de 2026. Normalmente, o Brasil segue os mesmos passos que os Estados Unidos.” Essa frase é uma referência sinistra ao fato de que o plano de golpe de Bolsonaro em 2023 foi inspirado na tentativa de golpe de Trump em 6 de janeiro de 2021. O próprio Eduardo Bolsonaro estava em Washington durante o ataque ao Capitólio dos EUA para absorver lições estratégicas para os eventos que culminaram no 8 de Janeiro no Brasil.
Em 17 de fevereiro, a Folha de S. Paulo informou que Bannon tinha conversado dias antes com o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, sobre a denúncia contra Bolsonaro. Segundo a reportagem, “Rubio concordou com” a preocupação expressa por Bannon sobre a denúncia contra Bolsonaro e “agregou que [ela] seria muito malvista pelo governo Donald Trump”.
Para Bolsonaro e seus aliados, a CPAC não tem sido apenas uma um local para reunir a extrema direita global e promover suas ideias fascistas. Desde a sua edição de julho passado no Brasil, seus palestrantes têm trabalhado em conjunto para lançar uma campanha coordenada internacionalmente contra uma suposta perseguição política a Bolsonaro.
Em seu discurso na quinta-feira da semana passada na CPAC, Eduardo disse que, apesar de seu pai ter sido alvo do “Procurador-Geral do atual ‘governo socialista’” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores - PT), “a perseguição não é liderada pelo Poder Executivo, mas pelo Poder Judiciário”. Nesse sentido, ele continou, “meu país se tornou um laboratório de censura e autoritarismo judicial”.
O suposto “autoritarismo” é personificado pelo ministro Moraes, que também é o relator de várias investigações contra Bolsonaro, incluindo a da tentativa de golpe. “Sob sua vigilância [de Moraes]”, continuou Eduardo, “o Brasil se tornou um país onde as plataformas de redes sociais são forçadas a silenciar as vozes da oposição ou enfrentam bilhões em multas”.
Em abril passado, Musk se tornou um dos investigados no infame “inquérito das milícias digitais” relatado por Moraes, que se baseia na alegação fraudulenta de que a erosão da democracia no Brasil se deve à disseminação descontrolada de “fake news”. Entre agosto e setembro, Moraes suspendeu o X no Brasil por se recusar a remover contas de usuários residentes nos EUA envolvidos na tentativa de golpe de 8 de Janeiro.
Justificando a suspensão dos trabalhos da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Eduardo disse na CPAC que ela e a Fundação Nacional para a Democracia (NED) “ajudaram a financiar esse experimento” no Brasil. Essas instituições, segundo ele, estão “canalizando recursos para a censura judicial exagerada e a perseguição política em meu país”.
Seguindo o exemplo de Trump, Bolsonaro preparou o terreno para sua tentativa de golpe fascista ao avançar a alegação de que a eleição presidencial de 2022 no Brasil foi fraudada. Com o retorno de Trump ao poder, esse mito ganhou um novo impulso com a alegação de que a USAID canalizou recursos para órgãos como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para alterar os resultados da eleição.
Num dos trechos mais significativos de seu discurso, Eduardo afirmou que a eleição de seu pai em 2026 é a única maneira de evitar que o Brasil “caia completamente sob a influência chinesa”.
Além de a China ser o principal parceiro comercial do Brasil, ela também é membro dos BRICS - formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, além de meia dúzia de países recentemente incorporados ao grupo - que Trump ameaçou em dezembro com tarifas de 100% caso adotasse um sistema alternativo ao dólar.
Nas últimas semana, Bolsonaro deu várias declarações anti-China para fortalecer os acenos ao governo Trump. Em 14 de fevereiro, ele disse em entrevista à Folha que “se for presidente de novo, saio do BRICS.” Neste ano, o Brasil é o presidente dos BRICS, e o governo Lula definiu como uma de suas prioridades o desenvolvimento de uma plataforma que permita aos países-membros usarem suas próprias moedas para o comércio entre os países do grupo.
Indicando que a América Latina não será poupada num futuro conflito mundial, a Folha reportou em 6 de fevereiro que Bolsonaro “fará um ‘acordo militar parrudo’ com os EUA para acabar com a presença de terroristas na tríplice fronteira” entre Argentina, Paraguai e Brasil, uma região com grande presença libanesa que o governo israelense de Benjamin Netanyahu e Bolsonaro alegam de maneira infundada estar infestada de membros do Hezbollah. “Eu vou permitir que seja instalada uma base militar dos EUA ali”, declarou Bolsonaro.
O discurso de Eduardo Bolsonaro foi antecedido por uma série de reuniões que teve com parlamentares republicanos, na Casa Branca e no Departamento de Estado dos EUA para discutir a alegada perseguição política a seu pai.
Num vídeo que Eduardo gravou em 14 de fevereiro nos EUA com o jornalista Paulo Figueiredo, neto do último presidente da ditadura militar no Brasil que também foi denunciado pela tentativa de golpe no Brasil, Figueiredo disse que o objetivo dessas reuniões foi “expor qual foi o tamanho dessa interferência eleitoral no Brasil”; “querer eleições livres, transparentes, auditáveis e com a oposição podendo concorrer, que os EUA não reconheçam processos eleitorais que não passem por essas etapas;” e que “os EUA utilizem suas ferramentas de política externa, como faz em todo o mundo, para responsabilizar todos os agentes públicos que cometeram violações de direitos humanos e da democracia no Brasil.”
Para isso, eles se reuniram com a deputada Maria Elvira Salazar, que “reapresentou um projeto de lei chamado ‘No Censorship On Our Shores Act’, que cancela os vistos e impede a entrada de qualquer autoridade estrangeira [uma referência a Moraes e outros ministros do STF que condenarem Bolsonaro] que viole a liberdade de expressão.”
Mais significativamente, eles também se reuniram com o deputado Cris Smith, que, segundo Figueiredo, “provocou a ida do relator especial da OEA [Organização dos Estados Americanos] ao Brasil” no início de fevereiro para investigar uma denúncia de Bolsonaro de que estaria sendo alvo de perseguição política por parte do STF.
Segundo o Metrópole, “O relatório que a OEA prepara sobre Alexandre de Moraes pode levar a uma ofensiva nunca vista dos Estados Unidos contra o governo Lula”. Isso inclui “novas medidas que prejudiquem a economia brasileira, além da já anunciada taxação do aço”. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA.
Em uma antecipação do que está por vir, o Trump Media & Technology Group e a rede social fascista Rumble entraram com uma ação judicial conjunta em um tribunal federal americano contra o ministro Moraes por violar a soberania dos EUA e as proteções à liberdade de expressão ao exigir a suspensão de contas de apoiadores de Bolsonaro residentes nos EUA.
Na terça-feira, Musk respondeu a uma postagem no X questionando se Moraes não poderia ser alvo de sanção nos EUA por um discurso proferido por ele no mesmo dia em que denunciou as Big Techs por “não [serem] enviadas de Deus” e fazerem “lavagem cerebral” nos eleitores.
O g1 reportou que “o assédio de Elon Musk e de parte da base de Donald Trump contra o ministro Alexandre de Moraes” fez o STF “cobrar uma reação diplomática formal” do ministério de relações exteriores do governo Lula. Segundo a reportagem, o governo precisa reagir a “diversas frentes de constrangimento institucional”.
Porém, qualquer reação fará com que Lula vire ainda mais à direita em meio a uma queda nos índices de aprovação de seu governo, a uma inflação crescente e a uma incapacidade de resolver as queixas sociais e econômicas crescentes da população no Brasil.
Como um representante fiel da elite dominante brasileira, Lula possui nesses dois anos de governo um histórico de ataques à educação, à saúde e a outros direitos sociais que representam uma continuidade do que o governo Bolsonaro estava implementando no Brasil. No que deve ser um alerta dos mais sérios para a classe trabalhadora brasileira, esse processo está fortalecendo a oposição política fascista, que tem se beneficiado das traições do PT e dos sindicatos liderados por ele.
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